quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Restauração Violão Giannini 1973




Em uma tarde agradável tocando violão e conversando descontraidamente meu chará Guilherme mencionou  que havia um violão antigo parado a muitos  anos em um galpão de sua familia.  Fiquei curioso pois  ele não sabia dizer a marca do violão, disse apenas ser  "antigo"... Particularmente  eu adoro instrumentos e objetos  antigos , e pedi para o amigo trazer o violão para que  eu pudesse analisar melhor e buscar pesquisar mais sobre a tal antiguidade.

Ainda no fim de tarde do mesmo dia, eis que surge um violão vermelho e grosso de pó..

 Na etiqueta dizia: "Tropicalia"   T.Giannini .S.A  tropicalia II  -  AWS 41 ...



Reparei que havia uns nomes  escritos na etiqueta e perguntei mais  sobre. "Eis que surge" uma história por traz dos nomes escritos...

O violão foi comprado pela  avó de Guilherme, e foi dado para seu pai, que infelizmente não continou com os  estudos da musica e o violão acabou ficando parado por  algumas décadas. Eu disse que provavelmente poderia  ser do inicio dos  anos 70...


Estava com algumas cordas inteiras e outras  arrebentadas, reparei que haviam algumas fissuras na madeira e a escala estava descolando, perguntei mais e soube que as tarrachas  estavam ruins e não seguravam nem um pouco a afinação. Outra coisa interessante  que  eu pude observar foi a ponte móvel (o nome correto é Floating Bridge) como aquelas usadas nos violões archtop.

Ficou combinado que eu iria pesquisar sobre o violão e depois iriamos ver oque poderia ser feito.


Pesquisei o modelo no site do fabricante GIANNINI segue o link :   www.giannini.com.br

Na homepage do site  tem uma aba com o nome institucional / catálogos antigos onde você pode pesquisar alguns  instrumentos ja fabricados pela Giannini Brasil.

Por intuição eu fui direto nos catalogos do inicio dos anos 70, e  então encontrei o tal AWN 41 tropicalia II no CATÁLOGO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS E ELETRÔNICA - 1973 / 1977 GIANNINI.




Nunca tinha visto este modelo antes e fui pesquisar mais, não encontrei muita  coisa  sobre este modelo em especial.

 Infelizmente aqui no Brasil os instrumentos  antigos foram se perdendo com o tempo e até mesmo por descuido. Alguns modelos não são  TOP de qualidade e nos dias atuais perdem feio para qualquer violão razoavel fabricado na China.

 O maior valor seria mesmo o valor histórico e até mesmo colecionavel, pois estamos em uma epoca de colecionismo de instrumentos "Vintage" e vejo pessoas pedindo preços  absurdos em instrumentos nacionais de qualidade razoavel, e as vezes ruim. Raramente  encontramos instrumentos nacionais "excelentes" e em perfeitas condições, ainda  mais se tratando de instrumentos antigos com mais de 20 anos.

O violão em questão se trata de uma peça de qualidade razoavel, onde seu maior valor é o historico e sentimental para o dono. Pude notar falhas graves de fabricação como marcas de lixa e lima groza na madeira, trastes desnivelados e mal colocados e mal limados a ponto de sobrarem cantos afiados a partir da 12ª casa. Falhas que eu pude corrigir nesta restauração, a quase 4 décadas depois de sua fabricação.

Nos violões pintados, a madeira pode variar muito a sua qualidade, visto que a tinta esconde a madeira por baixo do instrumento. Obviamente que isso é uma tremenda "picaretagem", mas se tratando de instrumentos feitos para iniciantes ou produzidos  em larga escala enfim... Não consigo encontrar outra palavra que não seja "picaretagem", e mesmo as mais  afamadas  marcas de instrumentos podem usar deste truque para empregar madeiras de baixa qualidade nos instrumentos, pois fica escondida debaixo da tinta.

Neste caso, o catalogo diz: Construido com madeiras brasileiras selecionadas, mas não especifica qual o tipo de madeira usada.
 Eu tenho meus palpites sobre o tipo de madeira que foi usado (basicamente cedro e imbuia) e algumas outras que  não pude identificar. O tampo é um laminado fino, bem como o fundo e faixas.

A escala é pintada de preto, imitando o ébano, mas durante a restauração eu tive que recolar a escala, e a madeira real não é  ébano, é uma madeira de coloração clara, entre o marrom e o amarelo-ouro.

"Reza a lenda" .. Que a Empresa Giannini teria feito a linha Tropicália em homenagem ao movimento TROPICÁLIA no Brasil no final dos anos 60...

Se você não conhece o movimento tropicália, aqui vai um pouco de história :

 Tropicalismo ou Movimento tropicalista era um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e o concretismo); misturou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. O movimento manifestou-se principalmente na música (cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé); manifestações artísticas diversas, como as artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), o cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema novo de Gláuber Rocha) e o teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa). Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".
 O movimento tropicalista trouxe várias inovações para o cenário cultural brasileiro do final da década de 60. Eles se caracterizavam pelo excesso, roupas coloridas, cabelos compridos e agregavam várias influências musicais. Era uma mistura da cultura brega, do rock inglês dos Beatles, da música erudita, da cultura popular, entre outros. O som da guitarra elétrica convivia com violinos e com o berimbau.


Pesquisado a origem e história, foi decidido a restauração do violão. Decidimos deixar ele original, porém 100% funcional e corrigir pequenos detalhes e erros de construção além de danos causados pelo tempo.
Eis como o violão chegou até as minhas  mãos :




 Muitos  anos de esquecimento em um galpão...


Fotos internas do violão. Note que foi flagrado um pedaço de palito de fósforo e muita sujeira.



 Nesta outra foto, pode notar um ninho de aranha marrom.. Tomar cuidado ao manusear coisas antigas, nunca  sabemos  as surpresas que nos aguardam . Ai só tinha um ninho, mas ja não havia mais aranha nenhuma.



Pó, teia de aranha e sujeira !!!



 Aqui ja um trabalho de limpeza





 Observe o mal estado das peças devido a  ação do tempo


 A escala estava horrivel, e os trastes foram pintados na fabrica, estavam grosseiramente lixados e desuniformes



O cordal enferrujado e solto





 A escala descolada






 Depois de muitas horas de trabalho:






A escala foi  recolada no lugar e os trastes retificados, mas sem perder a originalidade.









 Quanto ao som, é inexplicavel...  Só mesmo tocando um violão de 40 anos para saber, muito legal :)












Irmãos de Fábrica :





Fabricados nos anos 70



O formato da caixa acustica é quase o mesmo, porém o meu é levemente mais largo o tampo, para ser mais exato é uma diferença de 5,2mm, alem das madeiras  serem totalmente distintas  entre um modelo e outro.







Antes e depois:

























Um comentário:

  1. Oi, cara. Tudo bem? Acabei de encontrar um também. Só que esse que tenho aqui, creio que é um modelo antes, de 1968, distribuido pela ditadura junto com o programa Mobral. Adoraria trocar uma ideia sobre. Abraços.

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